Biografia

Alberto Valença (Alagoinhas/BA 1890 – Salvador/BA, 1983), um dos últimos representantes da Escola Baiana de Pintura, teve seu talento reconhecido pelo mestre Manuel Lopes Rodrigues (1859-1917), aos quinze anos de idade, enquanto aluno do curso de desenho no Liceu de Artes e Ofícios, Salvador, Bahia.

Embora tenha passado a maior parte da vida na Bahia, frequentou a Academia Julian, em Paris; viveu na Bretanha, noroeste da França; e trabalhou no Rio de Janeiro. Por quase três décadas, foi professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e mestre de várias gerações de artistas.

A seguir uma biografia resumida com fatos marcantes de sua vida e obra.

Retrato fotográfico de Alberto Valença

7 de junho de1890

Nasce Alberto Aguiar Pires Valença em Alagoinhas, Bahia. Filho do telegrafista Manuel Joaquim Pires Valença e Olympia de Aguiar Pires Valença. O casal teve quatro filhos: Almiro, Alberto, Heitor e Ezilda. Com a morte do pai em 1898, Almiro e Alberto tiveram a infância dividida entre o curso primário e o trabalho para ajudar o sustento da família.

Retrato do pintor Manuel Lopes Rodrigues

1905

Inicia o estudo de desenho no Liceu de Artes e Ofícios, aluno de Manuel Lopes Rodrigues e da irmã Maria Constança Lopes Rodrigues. Estuda à noite em virtude de suas obrigações no modesto trabalho.

Escola de Belas Artes da Bahia, 1940

1908

Amparado pelo mestre, o pintor Manuel Lopes Rodrigues, matricula-se na Escola de Belas Artes onde conclui o curso de pintura em novembro de 1914.

Um arrabalde

1911

Pinta Um arrabalde.

1912-1920

Trabalha como desenhista técnico na Cia. de Energia Elétrica, subsidiária da Cia. Linha Circular da Bahia, cujo diretor, o engenheiro Américo Simas, estimula o jovem Alberto Valença em sua formação artística e profissional. Adquire apreciável domínio do desenho arquitetônico.

1913

Começa a fazer pinturas paisagísticas ao ar livre na periferia da cidade do Salvador em companhia de Presciliano Silva (1883-1965), que, recém-chegado de uma temporada de estudos na França, pintava à maneira impressionista.

Trapiche e Barcos, Avenida Jequitaia

1914

Pinta a tela Trapiche e Barcos, Avenida Jequitaia

Barcos Parados

1915

Realizou a pintura: Barcos Parados. Saveiros na Feira de Água de Meninos, Salvador.

1917

Falecimento do professor Manuel Lopes Rodrigues aos 58 anos de idade.

Ladeira da Montanha e Teatro São João

1918

Realiza a pintura Ladeira da Montanha e Teatro São João.

Claustro do Convento do Carmo

1919

Pinta Claustro do Convento do Carmo e duas telas sobre uma mesma paisagem: Ubarana Luz da Manhã e Ubarana Luz Vespertina.

Porto de Pesca

1920

Emprega-se na Inspetoria das Obras contra as Secas, como desenhista.

Participa do grupo A Távola, liderado por Carlos Chiachio, juntamente com Admar Guimarães, Presciliano Silva, Eugênio Gomes, Aloísio Carvalho Filho, Roberto Correia e outros.

Pinta Porto de Pesca, Manhã em Ubarana, Pátio interno do Convento de São Francisco, Forte de Monte Serrat I e II, Igreja da Saúde.

Rochedos no Farol da Barra II

1921

Pinta Rochedos no Farol da Barra II.

Retrato de Claudionor

1922

Pinta Retrato de Claudionor.

Cabeça de Velha

1923

Participa da exposição coletiva organizada por Presciliano Silva para o Centenário de Libertação da Bahia, inaugurando a nova sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e repetindo-se na Casa Bahia no Rio de Janeiro. Além de Valença, dentre os expositores estavam Presciliano Silva, Oséas dos Santos, Pasquale De Chirico, Carlos Sepúlveda, Robespierre de Faria, Raimundo Aguiar.

Primeira exposição individual na Bahia.

Realiza Cabeça de Velha, Autorretrato e Meditação.

Portão da Penha

1924-1925

Pintou duas versões de “Fráguas”, paisagens da praia de Ondina, Salvador, Bahia. Ao retornar da França pintou “Fráguas III” entre 1928-29, totalizando cinco telas com o mesmo tema e título.

Pinta Portão da Penha, Porto dos Tainheiros, Tamarindeiros sobre o cais do Porto dos Tainheiros, São Lázaro, Estrada de Amaralina.

Águas Paradas

1925

Segunda exposição individual na Bahia.

Pinta o Retrato de Dom Ruperto (1877-1929), abade do Mosteiro de São Bento de 1920 a 1929.

Pintou também: Águas paradas, Reflexos n'água, Marinha, Claustro do Convento de São Francisco, Porta da Sala do Capítulo, Barcos em Porto dos Tainheiros, Paisagem com Cajueiro.

Outubro de1925

Viaja para a França, com bolsa de dois anos concedida pelo Governo da Bahia, onde frequenta a Academia Julian em Paris. E em seguida o ateliê de Émile Renard.

Place de la Concorde

1926

Em Paris, produz expressivo número de estudos e retratos no ateliê de Émile Renard, que o aconselha fixar-se na França ou no Canadá, onde seu nome foi indicado a uma escola de pintura.

Pinta Place de la Concorde, Mulher rezando, Zingara e Nu feminino (pintado no atelier de Renard)

Bretão

1927-1928

Transfere-se para Concarneau, Bretanha, noroeste da França, onde realiza numerosos estudos, manchas e telas.

Entre eles: Bretão, Cabeça de velha, Mercado de Concarneau, Atuneiros na Bretanha, Atuneiro na Bretanha em Pochade, Luar na Bretanha, Paisagem francesa, Torre de Concarneau, Cais de Concarneau, Pescador Bretão, Campos do Finistère, Barcos Atuneiros em Concarneau Bretanha, Atuneiros em Concarneau.

Pôr do sol sobre o Convento do Desterro

1928

Retorna a Salvador, Bahia, trazendo consigo cerca de 30 telas produzidas ao longo da temporada francesa.
 
Volta a pintar a paisagem baiana, e em dezembro do mesmo ano, realiza uma exposição individual com 60 quadros, metade realizada na França e metade na Bahia. Registra-se relevante sucesso e reconhecimento ao artista.

Pinta Pôr do sol sobre o Convento do Desterro.

1928-1930

Ensina desenho no Ginásio da Bahia.

Interior de Igreja ou Convento

1929

Pinta Interior de Igreja ou Convento e Farol da Barra.

Caminho de Areia

1930

Pinta Caminho de Areia, Praia do Bogari, Retrato de Moça, Boca do Rio, Passagem para o RefeitórioO Breviário.

Alberto Valença (à direita) no Rio de Janeiro

1931

Pinta Antessala da Enfermaria.

Transfere-se para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Participa da Exposição da Associação dos Artistas Brasileiros no Palace Hotel do Rio de Janeiro.

Ensina desenho técnico no Curso Freycinet, à noite e desenho para nível ginasial no Instituto Lafayette por dois anos.

Lectícia Machado, futura mulher de Alberto Valença recebe diploma de Menção Honrosa na Exposição Nacional de Belas Artes. Nesse ano eles ainda não se conheciam.

Retrato de D. Ana Cerqueira Lima

1932-1933

Expõe suas telas na vitrine da renomada Galeria Georges Petit. A temporada carioca é marcada pelos retratos, como de Ana Cerqueira Lima, o do Cardeal Dom Sebastião Leme, pertencente à Irmandade do SS Sacramento da Candelária do Rio de Janeiro.

Participa do Salão Nacional de Belas Artes, obtendo a premiação de medalha de prata com o Retrato de D. Ana Cerqueira Lima e Retrato de Francesco Mana.

1933

Retorna a Salvador, Bahia, para nunca mais sair da terra natal.

Indicado para a regência da cadeira de Desenho de Modelo Vivo da Escola de Belas Artes do Estado da Bahia. Reassume o cargo de professor de Desenho no Ginásio da Bahia, aí permanecendo até a década seguinte.

Retrato do Cardeal Dom Sebastião Leme

1934

Retorna ao Rio de Janeiro para concluir e inaugurar o Retrato do Cardeal Dom Sebastião Leme - Candelária, Rio de Janeiro.

Tamarindeiros da Penha

1936

Integra o grupo fundador de ALA - Ala das Letras e das Artes.

Pinta Tamarindeiros da Penha e Trapiche.

Igreja de Santana

1937

Exposição individual no saguão do Palácio Rio Branco.

Participa do I Salão de ALA.

Pinta Igreja de Santana.

Santo Antônio da Barra

1938

Expõe no II Salão de ALA, com dezenove trabalhos.

Pinta Santo Antônio da Barra.

Alberto Valença e Lectícia Machado

1939

Aos 48 anos, casa-se com Lectícia Machado, sua aluna da Escola de Belas Artes.

Nascimento do filho Antônio Alberto Valença.

Retrato de Renan Menino

1939

Realiza Retrato de Renan Menino.

Armação Luz da Tarde

1940

Nomeado consultor do Museu do Estado da Bahia, atual Museu de Arte da Bahia, cargo que exerceu até se aposentar aos 70 anos.

Pinta Armação Luz da Tarde, Porto da Barra, Baía de Todos os Santos, Cotidiano à Beira-Mar, Madre de Deus, Paisagem de Madre Deus.

Retrato de João da Silva Campos

1941

Realiza o Retrato de João da Silva Campos.

Retrato de Solange Menina

1942

Participa do VI Salão de ALA.

Realiza o Retrato de Solange Menina.

Paisagem Madre de Deus

1943

Após cinco anos de casado, falece sua esposa Letícia, aos 34 anos de idade.

Pinta Paisagem Madre de Deus, Porto de pesca. Madre de Deus, Saveiro Encalhado I, Coqueiros Madre de Deus.

Retrato de Humberto Peixoto

1945

Contratado pela EPUCS (Escritório de Planejamento Urbanístico da Cidade do Salvador) para uma série de desenhos do casario da Bahia antiga.

Pinta o Retrato de Humberto Peixoto e Orla de Salvador.

Retrato de Vera Costa Pinto

1946-1947

Participa das edições do Salão de ALA.

Realiza o Retrato de Vera Costa Pinto e A Caboclinha.

Professores da Escola de Belas Artes

1949

Premiação máxima, medalha de ouro, da Divisão Geral do I Salão Baiano de Belas-Artes, no IV Centenário da Fundação da Cidade do Salvador. Salão de caráter nacional, organizado por Anísio Spínola Teixeira, Presciliano Silva, José Valladares, Admar Guimarães, Diógenes Rebouças, Ismael de Barros e Godofredo Filho. O prêmio de Alberto Valença foi conferido ao seu Retrato de D. Ana Cerqueira Lima.

Pinta Igreja de Santana e Casario.

Alberto Valença by Presciliano Silva

1950

Presciliano Silva desenha o retrato de Alberto Valença.

Pinta Trapiche Adelaide e Mar Grande.

Aula de desenho de modelo vivo

1951

É nomeado, pelo presidente Getúlio Vargas, professor catedrático da cadeira de Desenho de Modelo Vivo, do curso da EBA na Universidade da Bahia (atual UFBA).

22 de agosto - Nascimento, em Salvador, de Maria Amélia Valença, filha de Alberto Valença com Joana Amélia de Jesus.

Pinta Retrato de Olympia Valença.

Ilhota

1953

Pinta Ilhota (Mar Grande).

Retrato de Dona Romana Calmon

1954

Pinta Retrato de Dona Romana Calmon.

Retrato do pintor Mendonça Filho

1955

Participa do V Salão Baiano de Artes com um desenho.

Pinta o Retrato do Pintor Mendonça Filho.

Casario de Itaparica I

1960

Aposentadoria compulsória, por idade, do cargo de professor da UFBA.

Pinta Casario de Itaparica I e II.

Igreja do Senhor dos Passos e casario

1961

Aos setenta anos, redescobre no Convento do Carmo o refúgio para sua derradeira série de pinturas.

Recebe o título de Professor Emérito da UFBA.

A Academia Brasileira de Belas Artes confere-lhe a Medalha de Grau Acadêmico e Gravata Comendatícia, assim como a Cadeira 46, patronímica de Eugênio Latour.

Nessa década pinta: Igreja do Senhor dos Passos e casario, Pátio e Claustro do Convento do Carmo I e II, Clausura do Convento do Carmo.

Baía Todos os Santos

1962

Pinta Baía Todos os Santos.

Retrato de Jorge Costa Pinto

1963

Pinta Retrato de Jorge Costa Pinto.

Torre do Convento do Desterro

1968

Pinta Torre do Convento do Desterro.

Interior – Convento do Carmo

1969

Pinta Interior – Convento do Carmo e Porta da Sacristia.

Catálogo Exposição 1970

1970

Considerável diminuição da capacidade visual.

Exposição retrospectiva no Museu de Arte Sacra da Bahia. Catálogo com texto escrito pelo poeta Godofredo Filho.

Recebe o Prêmio Odorico Tavares conferido pelo Governo do Estado da Bahia.

1971

Acentua-se a tendência à melancolia. Inicia a queima de quadros para os quais não alcança os resultados exigidos pelo rigor de sua autocrítica.

Aos 82 anos de idade, Alberto Valença pintando na Praia de Gameleira, Ilha de Itaparica, Bahia, Brasil

1972

Inicia a pintura Praia da Gameleira.

Realiza Retrato de Marta Valença, quando ela era casada com o filho do artista.

Praia da Gameleira

1973

Ainda no mês de janeiro e no veraneio de Itaparica, tenta, sem o conseguir, pintar uma marinha, guardada pelos familiares como sua última marinha (inacabada, não assinada).

Crise de retenção urinária, cirurgia de catarata.

Conclui Praia da Gameleira (última marinha assinada).

Tenta pintar uma marinha, que abandona por insatisfação com o resulto - Última Marinha (inacabada).

1977

Clarival do Prado Valladares o visita comunicando o projeto de publicar livro sobre sua obra.

Capa do livro de Clarival Valladares

1980

Publicação do livro Alberto Valença: um estudo biográfico e crítico, de autoria de Clarival Valladares, pela Construtora Norberto Odebrecht.

na noite entre 20 e 21 de agosto1983

Falecimento de Alberto Valença aos 93 anos.

1990

Centenário de nascimento.

Fachada da Galeria Cañizares

1991

Exposição comemorativa do centenário de Alberto Valença na Galeria Cañizares, Salvador, Bahia com catálogo, organizada pela Professora Márcia Magno

Capa do livro "Conversando com a Pintura de Alberto Valença", por Vera Spínola

2020

Após concluir uma pesquisa que durou cinco anos, a professora Vera Spínola, esposa do filho Antônio Alberto, publicou o romance biográfico Conversando com a Pintura de Alberto Valença. Não chegou a conhecer o pintor, já que começou a se relacionar  com Antônio Alberto em 1991, oito anos após a morte de Alberto Valença.

Poster e folder da exposição Conversando com a Pintura de Alberto Valença

2021-2022

De 20 de outubro de 2021 a 30 de janeiro de 2022, o Museu de Arte da Bahia e o Museu Carlos Costa Pinto, ambos na cidade de Salvador - BA, abrigaram a exposição Conversando com a Pintura de Alberto Valença, uma retrospectiva da obra e vida do pintor inspirada no livro homônimo de Vera Spínola, com 95 obras de coleções particulares e dos próprios museus.