Anna Verena Wildberger
Alberto Valença era uma pessoa extraordinária. Aprendi a gostar e apreciá-lo ao longo da minha vida.
Ele era muito amigo de meus pais. Frequentava sempre a nossa casa, ora almoçando ou jantando ou simplesmente vinha conversar.Nesses momentos inesquecíveis aprendi muita coisa. Só se conversava praticamente sobre arte, museus europeus, principalmente o Louvre e quadros célebres.
Ele contava muita coisa interessante sobre sua estadia na França, eu adorava.
Quando tinha meus 9 a 10 anos ele pintou um crayon meu e me dizia: "Não gosto de pitar crianças porque não ficam quietas. A "senhorita" faça-me o favor de se comportar e não se mexer. "Eu ficava completamente imóvel e quando acabava ele dizia-me: "coitadinha está exausta". Durou dias essa pintura, mas fui compensada no fim com meu retrato e um grande abraço de parabéns pelo meu comportamento.
Ele me dizia que só gostava de pintar quando estava inspirado, se não fosse assim tudo que produzia não gostava.
Contou-me uma certa feita que ia pintar as marinhas no local. Levava o cavalete com a tela e tintas e começava a trabalhar. Ficava muito aborrecido porque os molequinhos perturbavam e as vezes jogavam pedrinhas e chamavam-no de velho maluco. Mal educados dizia! No princípio se aborrecia tanto que voltava para casa. Depois achou desaforo e resolveu atrai-los. Então tornaram-se amigos e admiradores e ficavam a olha-lo pintar e acabaram depois ajudando-o até a carregar o material.
Ele era um homem muito sensível. Um belo dia ele conversando comigo, ficou a me olhar e começou a chorar. Tomei um susto pensando que ele sentia-se mal. Ai ele me disse: "Quando olho e lembro-me que conheci você criança e hoje é casada e mãe de filhos, fico muito emocionado."
Esse era o homem Alberto Valença que deixou muitas saudades e eu só posso agradecer a Deus por ter me dado o privilégio de tê-lo conhecido.
Anna Verena Wildberger