Arnaldo Brito Souza

O meu depoimento sobre o Mestre Alberto Valença segue alicerçado na mais bela das nostalgias.

Me remoto a um tempo em que a dinastia conhecimento e o veio artístico autêntico eram conquistas efetivas. Falo dos anos 50. Quando jovens, desafiávamos no velho solar Jonathas Abbott, a acomodação e primazia do academicismo. Pintávamos a arte moderna, respirávamos a arte da "vanguarda", mas no fundo, bem dentro de nós, ou pelo menos da minha parte, existia um pouso seguro: sabíamos que os nossos devaneios tinham a base nas mãos do Mestre Valença, era nas suas paisagens, no seu traço seguro e correto, na determinação hipernatural das suas cores que púnhamos um pouco "os pés no chão". 

A onipresença da sua pessoa na antiga Escola de Belas Artes, era sustentada, e hoje com o recordar, sinto bem clara, era  o carisma que o mesmo tinha em estar simultaneamente entre alunos e professores sem distinção de nenhuma espécie, num tempo difícil, sem a projeção Mestre Valença  falar dos seus artistas preferidos como Degas, Manet, Corot, Delacroix e Monet, era um desafio à imaginação, a Europa era um sonho. Rapazes humildes como eu, estavam fadados a um mundo diminuto, mas havia o conforto, dado a brilhante personalidade do artista Valença, de vivenciar as experiências do professor na academia Julian, de paris. E isto era gratificante.

Ouvi-lo falar da arte do velho mundo era fantástico e indescritível, como também era sólida a sua imagem: sempre de clássico terno e à passos comedidos, inesperado à sua "maletinha de pintura".
Como a melhor herança do tempo são as comparações que podemos fazer, eu aposto que foi duro, difícil mesmo o reconhecimento de "Mestre" do Professor Alberto. Primeiro havia que se ultrapassar a arraigada mentalidade artística de então. Havia que se provar, queira ou não, uma certa genialidade (quase transcendental) e por último, que eu suponha o nosso bem lembrado artista, não veio de uma família tradicional e abastada, portanto seu maior triunfo foi vencer pelo talento e isto o fez superior.    

Ele venceu quando furou o bloqueio elitista de uma Bahia Provinciana e foi um mestre quando não deixou que o egoísmo o engolisse ou que a vaidade o tentasse. Como aprendemos com ele!...

Arnaldo Brito Souza