Carybé

Conheci Alberto Valença em 1950. Antes de conhecê-lo pessoalmente conheci sua pintura, pequenos quadros pintados do natural, paisagens com mar, arrabaldes, um coqueiral, algum retrato.
Odorico Tavares e Godofredo Filho iam-me introduzindo nos valores da Bahia.

Era uma pintura limpa no sentido que era isenta de truques, sem nada de espetacular mas que, chamava a si. Era uma harmonia poética que fluía dessas paisagens e o motivo desse encantamento era a sinceridade de cada pincelada, todas estudadas, pensadas, postas com uma relação entre si como as palavras de um soneto, digamos até com uma rima cromática que é difícil de se encontrar.

E depois veio ele. Um Dom Quixote de jaquetão, romântico, e de uma sensibilidade de corda de violino. Cabeleira branca, brilhante ao vento, gravata lavaliére e, digamos, uma figura gostosa de se ver.

Os anos de estudo na França deram-lhe fluidez e ofício e tudo o que aprendeu nos campos da Bretanha, do Midi e de Paris foi transformado em matéria-prima para nossas praias, céus e paisagens de cromatismo tão diverso, de tão diverso sabor.

Carybé
junho de 1991