Isa Moniz de Aragão Faria

Difícil escrever sobre Alberto Valença. Não só pela complexidade de sua pessoa - como a de alguns grandes artistas - mas também pela amizade e admiração que lhe devotava e devoto.

Conheci-o, como aluna, na "Escola de Belas Artes e Arquitetura" da Rua 28 de setembro, nos idos de 1945 e durante os anos que lá estive.

Apesar de ter Mendonça Filho como Professor mais constante, Alberto Valença marcou sua presença pelo estímulo que me deu ao olhar um meu desenho e dizer-me com seriedade: "Não abandone nunca o seu desenho, a sua Arte".

Sua fama na Escola era de professor exigente e avesso a fazer elogios.

Outra característica que marcou foi o profundo respeito pelo trabalho do Aluno!

Sentava-se em frente ao cavalete, olhava o desenho, o modelo, devagar, e, sem tocar ou riscar, apontava os erros e as qualidades, riscando - em outro papel - o que ia observando, caso fosse necessário!

Figura magra, alta, impressionante, sua introversão encobria um mundo de emoção e sensibilidade.

Sempre contei com sua orientação segura e estimulante; ele sabia quanto o admirava como Artista e à sua obra; e a empatia que existia entre nós apesar da diferença de idade e de temperamentos.

Dos pintores baianos que conheci, Alberto Valença foi, para mim, o maior. Sem desmerecer os demais com os quais convivi àquela época e hoje.

Maior, nos retratos, nas figuras, nas paisagens baianas, nas Igrejas, nos interiores, sua Arte fluiu sempre em tom MAIOR!

Como a de muitos grandes artistas, sei que  sua vida foi dura e trabalhosa, sem facilidades. Sua modéstia e sensibilidade - talvez a certeza do seu talento - impediam-no de se expor em desafios e competições!

Quando, em 1986, candidatei-me ao Bacharelado em Artes Plásticas na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia - após anos de afastamento da Arte, entre criação de filhos e outros trabalhos profissionais - lembrei-me do que me dissera naquela primeira vez, olhando meu desenho, o que foi para mim uma grande força.

Sinto-me profundamente honrada em ter sido aluna e amiga do Mestre Alberto de Aguiar Pires Valença, de quem sempre falo, como exemplo, aos meus alunos.

Salvador, 08 de dezembro de 1996.

Isa Moniz de Aragão Faria