Place de la Concorde
Place de la Concorde
O perfeccionismo de Valença às vezes passava do ponto. Ao concluir um trabalho, sempre achava que precisava dar mais um retoque. Foi assim que, pintando ao ar livre em Paris juntamente com alguns colegas, Émile Renard exclamou: “Ne touchez pas. Ne touchez pas monsieur” (Não mexa. Não mexa, senhor).

Foi uma lição do mestre Renard para que os alunos entendessem que o pintor deve saber quando o quadro está pronto, quando se deve parar de dar pinceladas, sob o risco de estragar o trabalho. Segundo o pintor Sante Scaldaferri, que viria a ser seu aluno nos anos 1950, Valença havia absorvido os ensinamentos teóricos e também artesanais, chamados, no jargão dos pintores franceses, la cuisine. Trata-se da mistura e preparo das telas, das tintas, dos óleos, da aplicação de vernizes, do uso de carvão, dos chassis, dos pincéis, das ferramentas etc. Sante sempre ouvia de Valença “Le secret de la peinture...c’est la lumière” (O segredo da pintura está na luz). O mestre insistia para que os alunos desenhassem e pintassem com os olhos semicerrados para captarem melhor as manchas, o claro-escuro, ficando a obra sem muita definição. “Esse procedimento fora herdado dos impressionistas”, acrescentou Sante (SCALDAFERRI, 1995.).

Sabe-se que Valença trouxe para o Brasil cerca de trinta quadros pintados na Europa. Em Salvador, identificou-se uma pequena preciosidade, medindo 33 por 24 cm, na casa de Vera Maria Barroso, uma pintura da Place de la Concorde em Paris, com o obelisco e outros elementos do local facilmente identificáveis. Os detalhes dos monumentos e dos postes ornamentais foram dissolvidos pela luz num pálido crepúsculo, em discretos tons azuis acinzentados. Na nossa percepção, um exemplar impressionista.

SPÍNOLA, Vera. Conversando com a Pintura de Alberto Valença: Um romance biográfico. p. 57.

Technical datasheet

Place de la Concorde
Paris
Alberto Valença
Oil painting on canvas
25 x 34 cm
1926

Vera Maria Barroso’s collection