Arthur Jorge Costa Pinto
Dentre as inúmeras e gratas recordações que levo da minha infância no convívio com meus pais Vera e Jorge Costa Pinto, foi um privilégio para mim, conhecer nesta primordial fase da minha vida, o saudoso e reconhecido mestre da pintura impressionista baiana - ALBERTO VALENÇA.
Fraternal amigo de longa data da nossa família, venerado e respeitado por todos, foi uma figura humana de personalidade marcante e impenetrável, exibia uma educação contagiante, uma fonte perene de cultura notoriamente reconhecida, dono de uma sensibilidade extremamente aguçada na implementação eficaz do seu ofício e detentor de um temperamento com características singulares, as do gênio, consciente e comprometido com sua missão exemplarmente bem cumprida.
Lembro-me de que foi para meu pai, o seu verdadeiro e dedicado mentor artístico. Repassou-lhe com fidelidade, todos seus amplos conhecimentos e experiências, no desenho e principalmente na pintura.
Até que um dia, passando por um conflito transcendental, o seu disciplinado e introvertido liderado começou a libertar-s e dos padrões rígidos do academicismo, buscando ansiosamente, o caminho desprendido e recriativo que a modernidade impunha deixando o notável Valença indignado, com sua guinada impetuosa e de certa forma audaciosa. Entretanto, estava completamente impregnado por uma forte base técnica transmitida pelo seu extraordinário mestre, que consequentemente, o credenciou a tornar-se um apreciado artista moderno baiano, ancorando-se definitivamente em adotar a linha construtivista geométrica, identificada pelos críticos modernos que se manifestaram.
A Bahia sofreu e a comunidade artística perdeu um expressivo representante quando Valença partiu em 1983, aos 93 anos, após ter sido refém de uma longa e sofrida deficiência na sua visão, que o impossibilitou de continuar a produzir as suas belas paisagens de um colorido inusitado, os seus retratos fielmente elaborados e os interiores que marcaram a sua época.
Deixou uma obra permanentemente viva e irradiante. Ela é um arquétipo necessário para a eternidade, intronizada em museus, coleções particulares e compêndios, possibilitando que as futuras gerações possam diante dela, admirá-la e provavelmente extasiar-se.
Arthur Jorge Costa Pinto
Março 1997