Ed Carlos Alves de Santana
Alberto Valença: sua obra, sua vida e tons de pura poesia
Ed Carlos Alves de Santana - Artista plástico e mestre em Artes Visuais pela EBA-UFBA – 26/04/2013
Ao contemplarmos as obras do pintor baiano, Alberto Valença (1890-1983), natural de Alagoinhas-Ba, somos tocados por sentimentos contagiantes de amor ao fazer artístico-pictórico, pela nostalgia de um final de tarde, pela solidão erma, pela meditação e pela maestria pictórica.
Dos temas ou gêneros da pintura por Valença desenvolvidos: retratos, paisagens, casarios, interiores religiosos, marinhas com praias impregnadas da mais pura solidão e atmosfera de introspecção sensitiva. Podemos sentir a atitude de um homem introspectivo frente à natureza trocando diálogos tonais carregados de paixão ao ato da fatura plástica.
Dentre os mestres da arte baiana Alberto Valença era o mais solitário, sensível e inteligente. Em suas obras exceto os retratos, a figura humana é dispensada diante a riqueza da natureza. Pode-se imaginar Alberto Valença com seu material de pintor diante uma paisagem bucólica banhada de seus últimos raio de sol a plasmá-la na tela.
Este artista comungou com a natureza, tentou entendê-la e desta comunhão saíram obras estupendas, onde o domínio técnico da realidade promovida pelo desenho certo e sua grande capacidade de observação, que vai além do visto, ele captou a alma das coisas vistas: um cajueiro solitário, coqueiros, umbuzeiros todas estas coisas estão impregnadas de uma bela tristeza, de um caráter sóbrio, como se confidentes a se abrirem em suas lamentações de vida.
Em seu trabalho o silencio predomina. Há um quadro seu no acervo do Museu Carlos costa Pinto "Reflexos na água" que sempre me emocionou, perante tal visão de pintor, nesta obra a tarde cai, tudo é tão solitário, tão envolvente, um convite a meditarmos sobre os aspectos da vida, existência esta que passa rapidamente no vagar dos séculos, como se 100 anos se tornasse em um dia. Na sua ausência de quase 30 anos, fica-nos seus quadros, tão eternos quanto seu amor à arte.
Todos nós deveríamos deixar algo de belo com aura de eterno como fez o pintor e professor Alberto Valença em sua rápida passagem pela terra contribuindo para melhorar o mundo.
Alberto Valença deu-nos sua contribuição enriquecendo ainda mais nossas vidas com a beleza de suas obras, esta poesia plástico-visual que alegra-nos os olhos, nos fazendo mais felizes como pessoas em um mundo hoje conturbado pelo caos e constante perda de valores.
Na pintura de Alberto Valença a paixão é evocada em pequenas dimensões do belo, transfigurada pelo óleo como um transbordar de si mesmo. Este homem sentiu a necessidade de compartilhar leituras feitas pela alma de pintor sob a égide de pincéis empunhados em suas mãos hábeis prestando uma declaração de amor ao mundo, surpreendendo o olhar de seus admiradores assim fez o pintor Alberto Valença.
Fora da badalação de exposições, viagens ao exterior, o pintor só queria se reencontrar com seu amor maior, a silenciosa natureza. Um baiano de renome nacional e internacional, hoje está sendo resgatado por sua filha Maria Amélia Valença numa belíssima homenagem tornando publica a memória de seu pai, o grande mestre do plein-air baiano Alberto Valença.