Francisco Senna
Nos idos da década de 1960, quando estudante secundarista, tive o privilégio de conhecer o ilustre Professor Alberto Valença na residência do Dr. Galdino Ribeiro, na Rua Santa Clara do Desterro, em Salvador. Colega de Eduardo César da Silveira Ribeiro, no Colégio de Aplicação e de Carlos da Silveira Ribeiro, no curso de pintura do ICBA, netos de Dr. Galdino Ribeiro, frequentava esta residência com bastante assiduidade e costumava encontrar o Professor Alberto Valença pintando o Convento do Desterro, do jardim da casa de seu dileto amigo. Gostava de apreciá-lo, especialmente ao entardecer, retratando com pinceladas firmes o velho edifício, tão rico na sua volumetria e detalhes arquitetônicos.
Assisti-o, também, retratar o Dr. Galdino, bem como seu filho, Dr. Wilson Ribeiro, cujos originais a família conserva como relíquias. Era amado e admirado naquela casa e eu, ainda muito jovem, ficava encantado com o seu talento e simplicidade. Parecia-me um pouco reservado, metódico, consciente do que fazia e cuidadoso nos mínimos detalhes. Lembro-me que, certa vez, disse-me ser o entardecer uma hora especial para pintar, captando as sombras que o crepúsculo projetava sobre o edifício e, especialmente, quando o céu estava nublado. Considero o Professor Alberto Valença uma das maiores expressões da pintura impressionista no século XX, na Bahia, artista de grande sensibilidade, intimista e melancólico.
Quando Pró-Reitor de Extensão da UFBA, (1990-92), participei da comissão organizadora da Exposição Comemorativa do seu Centenário, realizada na Galeria Cañizares da tradicional Escola de Belas Artes da Bahia, intitulada "Alberto Valença - o poeta da cor", no período de 07 de junho a 07 de julho de 1991. Como colecionador, expus uma tela sua, datada de 1919, retratando a orla atlântica, de Ondina ao Farol da Barra.
Sou grande admirador da sua obra, pelo rico e talentoso acervo, que, juntamente com artistas do quilate de Diógenes Rebouças, Emídio Magalhães, Jaime Hora, Mendonça Filho, Newton Silva, Pancetti, Presciliano Silva, Raimundo Aguiar e Rescala, tanto engrandeceram o cenário das artes plásticas na Bahia, precursores do movimento modernista.
Francisco Senna
Abril de 1996